terça-feira, 25 de março de 2014

Pesar

“Comovo-me em excesso, por natureza e por ofício. Acho medonho alguém viver sem paixão”. 
(Graciliano Ramos)

Muito medonho. Não falo apenas da atração entre homem e mulher, mas falo da paixão pela vida, pelas coisas, paixão que surge em um momento. Eu tenho pena, eu sei que pena é um sentimento ruim; mas é essa a palavra, eu tenho muito pesar por quem não se apaixona na vida. Por quem deixa passar um pôr do sol, com todas suas cores e luzes sem se comover. Sinto pesar por quem não consegue se pegar com um sorriso nos lábios ao ver uma criança brincar, com sua inocência e delicadeza. Com quem não tem sensibilidade para apreciar uma bela música, se emocionar e se sentir tocado. Deve ser muito triste mesmo viver sem se encantar com a lua, em todas as suas fases, quando ela vai “crescendo aos poucos”, solitária e linda, até se tornar cheia e rainha da noite. Que vida sem graça deve ser a vida de quem não se deixa flutuar, feito bolha de sabão rodopiando pelo ar, com suas cores fascinantes. Quão monótona deve ser a vida de quem vive trancado dentro de si e não consegue se encantar com as pluralidades, nem admirar cada diferença do outro e descobrir que o mundo é bem maior que seu próprio umbigo. Quão pesada deve ser a vida de quem sempre carrega o fardo do trabalho, dos problemas domésticos, do cansaço e da reclamação; sem perceber que o seu dia-a-dia tem muito mais beleza do que ele possa supor. Deve ser horrível acordar pela manhã e não correr pra ver o céu azul esperando lá fora, cheio de nuvens branquinhas, que mais parecem flocos de algodão. Fico imaginando como deve ser não se arrepiar ao ouvir a chuva cair no telhado e ao sentir aquele cheirinho de terra molhada. Eu me compadeço de quem espera grandes acontecimentos para se sentir feliz, sem perceber que a felicidade está ali guardada dentro de um abraço, naquele disco velho na estante, naquele livro com cheirinho de novo que você ganhou no seu último aniversário, no aroma de comida caseira que lembra sua infância, naquele cálice de vinho e nas notas de um jazz ou de qualquer outra música que te traga aquela sensação boa, que você não sabe nem explicar... quem muito espera vive sem ao menos se dar conta que a felicidade está do seu lado flertando a cada momento e o convidando para dançar. Como diz o piauiês, deve ser ‘mó paia’ não admirar a imensidão do mar e sentir toda a positividade que ele exala, cheio de mistério e magia, e se permitir ficar nem que sejam 10 minutinhos o contemplando e se energizando, deixando que ele leve tudo de ruim pra além-mar. Quão pavorosa deve ser a vida quem vive de mau-humor, sempre querendo mais e não se sente grato por tudo que tem, pela comida no prato, pelos amigos, pela família, pelas flores no jardim que exalam seu perfume lá fora, pelo ar que entra nos pulmões, por estar vivo. Deve ser um horror viver nessa escuridão, caminhar pela vida deve ser uma carga muito pesada de quem caminha com uma bigorna amarrada aos pés.
Eu não, eu quero ser dia de sol, quero ter a leveza das plumas e a beleza de quem ama! Como diz Manoel de Barros: “Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos. Tenho abundância de ser feliz por isso. Meu quintal é maior que o mundo”. ;)


Beijos, beijos, beijos \o/

3 comentários:

danilo disse...

Rumhum

Patrícia Leal disse...

Ameiiiiii! Que lindo! Quero viver apaixonada!!! SEEEMPRE!!! Te amo :****

Anny Manson disse...

muito bom,adorei.Beijos !

http://shesblack.blogspot.com.br/